segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Gente inteligente... reação irracional.

“Uma criatura encouraçada, com três chifres, pasta ao sol. Placidamente, marca sua área com excrementos do tamanho de melões. A terra é sua. O que nela cresce é seu. O ar é seu. Se alguém quiser disputar sua posse, aquiecerá com todo prazer. Avante, diz bufando. Faça-me ganhar o dia”.

Um dos grandes desafios dos ambientes corporativos é lidar com a territorialidade. Quando as pessoas se comportam de maneira territorial, parecem cômicas para outros e até se sentem engraçadas, mas não param. A territorialidade é coisa séria. É programada tão no íntimo que, para ser bem-sucedido nos negócios, temos de conviver com ela e compreende-la.

Falarei aqui sobre a territorialidade na sua forma mais simples. Considere sua mesa. Como se sentiria se chegasse para trabalhar e descobrisse que mexeram no material que estava em cima da mesa? Pior, como reagiria se levasse algumas pessoas para uma reunião na sua sala e uma delas se sentasse na sua cadeira?

Você ficaria numa posição muito penosa. Uma parte de você diria no seu íntimo: “É a minha cadeira! Ele não tem o direito de fazer isso!” E a outra ponderaria: “Não seja tolo. É apenas uma cadeira”.

O alvoroço que você sentiria nessa situação é forte e irracional e vem diretamente dos nossos mais irracionais instintos. Estamos programados para considerar determinados espaços como pertencentes a nós. Nós os marcamos com nossas coisas, como quadros e calendários nas paredes do escritório, porta-retratos sobre a mesa, ou a poltrona de descanso em casa e a pilha de marcadores territoriais perto dela – os jornais e revistas – e os adesivos colados nas bordas do monitor do computador? Sim meus amigos: são excrementos territoriais, que delimitam seu território.

Os nomes também são importantes. Nossa mente instintiva e irracional não faz distinção entre o nome do objeto e o objeto em si. Pense em seu cargo e no que sentiria se alguém o entendesse errado. Ou talvez, alguém diz que seu carro é cinza, quando sua verdadeira cor é “Fumaça de Floresta Negra” (afinal foi assim que veio especificada na NF da fábrica). Se alguém se intrometer em seu território, você se sentirá atacado. Isso não é racional, mas é consistente. Sentimo-nos tolos quando agimos assim, mas nem por isso deixamos de faze-lo.

Invadir o espaço pessoal de alguém pode ser um artifício para manter o domínio de uma situação. Quando o caso é com a gente, sabemos que algo está acontecendo, mas muitas vezes, é difícil falar sobre uma questão que nos parece irracional.

O territorialismo também pode ser positivo, quando leva ao sentimento de grupo. As pessoas precisam sentir que seu trabalho é importante e exige habilidades especiais e que nem todo mundo é capaz de realiza-lo. Pense no lema do comercial das forças armadas que está no ar na TV atualmente: “Estamos procurando alguns homens competentes”. Esses sentimentos de afiliação e lealdade, que surgem em nosso irracional, são essenciais para a motivação.

Como lidar com a territorialidade?

A melhor maneira de enfrentar a territorialidade é concordar com ela e considera-la um mal necessário, porque ela causará sérias encrencas se não for levada a sério. O melhor meio de lidar com questões territoriais é de frente, mas não através de confronto.

Os médicos, por exemplo, logo aprendem que, se chegarem em um andar do hospital e não falarem com a enfermeira-chefe, terão muito mais dificuldade para realizar seu trabalho nesse andar. Da mesma maneira, se a parte do prédio onde você precisa ir é território de alguém possessivo, telefone antes e explique a razão de ir lá ou passe pela sala da pessoa e explique o que está fazendo ali e quanto tempo pretende ficar.

O maior problema que as pessoas parecem ter com os defensores de território é não levar á sério a territorialidade deles e movimentar-se na fronteira. Talvez você considere uma tolice defender territórios, mas, para quem o faz, isso é a própria vida.

Até semana que vem.

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